A Psicologia da Escassez e o Impulso de Comprar na Black Friday

A Black Friday consolidou-se como um dos maiores eventos comerciais do Brasil. Com forte apelo midiático, campanhas massivas e uma atmosfera de “imperdível”, movimenta bilhões e influencia o comportamento de milhões de consumidores. O que antes era apenas uma data promocional transformou-se em um fenômeno cultural uma verdadeira maratona de compras, na qual planejamento e emoção disputam espaço a cada clique.

            Por trás do entusiasmo generalizado, há um componente psicológico que impulsiona grande parte das decisões tomadas nesse período: a psicologia da escassez. Trata-se do mecanismo que faz com que produtos supostamente raros, limitados ou disponíveis por pouco tempo se tornem mais desejáveis. É uma reação instintiva, presente desde tempos em que garantir recursos antes que acabassem era essencial para a sobrevivência.        

            Sempre que um item parece raro, exclusivo ou disponível por tempo limitado, sua percepção de valor aumenta. O mercado explora esse comportamento natural ao utilizar expressões como “últimas unidades”, “oferta válida somente hoje” ou “estoque quase esgotado”. Essas mensagens acionam um senso de urgência que reduz a reflexão e aumenta a ansiedade de compra. Em vez de avaliar com calma a real necessidade do produto, muitos consumidores se sentem pressionados a agir rapidamente, temendo perder uma oportunidade única. Esse fenômeno é conhecido como FOMOfear of missing out, o medo de ficar de fora.

            O resultado é claro: cresce o número de compras impulsivas. Pessoas adquirem produtos que não planejavam, que não precisam ou que não cabem no orçamento, apenas para evitar a sensação de perda. Há quem compre eletrodomésticos duplicados, invista em eletrônicos por impulso ou encha o carrinho de itens que jamais usará. A satisfação momentânea frequentemente dá lugar ao arrependimento, à culpa e até ao endividamento.

            Essa reação, porém, não ocorre por acaso. O varejo moderno se apoia em análises comportamentais sofisticadas. Sites e aplicativos são desenhados para induzir decisões rápidas: cronômetros regressivos, avisos de “várias pessoas estão vendo este item”, cupons com minutos para expirar e frete grátis condicionado ao fechamento imediato da compra. Cada detalhe é planejado para reduzir o tempo de reflexão e maximizar o impacto emocional.

            Além disso, o ambiente da Black Friday cria uma sensação de competição. O consumidor acredita estar disputando as melhores ofertas com milhares de pessoas ao mesmo tempo, o que intensifica o senso de urgência. A experiência se assemelha a um leilão moderno: quem hesita, perde. Essa atmosfera estimulante, somada à crença de que tudo está mais barato, transforma o consumo em reflexo automático, guiado mais pela emoção do que pela necessidade.

            Ainda assim, a Black Friday também oferece oportunidades reais de economia. É possível comprar bem, desde que haja planejamento. Comparar preços antes da data, definir limites financeiros e avaliar prioridades são estratégias que diferenciam uma compra inteligente de um gasto impulsivo. A consciência financeira, e não a pressa, é o elemento que transforma a data em vantagem.

             Refletir sobre esses mecanismos torna-se essencial em um país onde muitos lutam para equilibrar o orçamento. Compreender como o marketing da escassez influencia decisões é uma forma de proteção e um caminho para fortalecer o autocontrole. A emoção do momento não pode comprometer meses de planejamento.

A Black Friday permanece um evento esperado e, para muitos, vantajoso. Mas também evidencia que consumo consciente desloca-se de recomendação para necessidade. Pesquisar, planejar e questionar a real utilidade de cada compra são atitudes que devolvem ao consumidor seu protagonismo.

            No fim das contas, a data pode ser uma grande aliada ou uma armadilha perigosa. Tudo depende de quem está no controle: a razão que reflete ou o impulso que domina.

Porque, no universo do consumo, o maior desconto sempre será aquele que preserva a consciência, e não o que esvazia a carteira.

Autores: Arthur Rodrigues França, Danilo Silva Pequeno, Millene Pinheiro de Lima, Myrian Raquel Luz Campos da Silva, Rafael Pereira de Freitas, Richard Gabriel Fernandes de Lima – Estudantes do 3º e 4º Período do curso de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Araguaia.

Professora Orientadora Luana Machado dos Santos– Mestra em Engenharia de Produção e Sistemas, Administradora, Especialista em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria, Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais. Professora do Centro Universitário Araguaia

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