A Black Friday deixou há muito tempo de ser apenas um evento promocional e consolidou-se como um dos maiores testes de reputação e eficiência para empresas brasileiras. Ano após ano, o comportamento do consumidor se transforma, torna-se mais crítico, mais conectado e mais exigente, e isso coloca diante das organizações um desafio que vai muito além de oferecer descontos agressivos. A pergunta que o mercado precisa se fazer é: como aproveitar esse momento sem comprometer a confiança construída com tanto esforço?
O varejo brasileiro coleciona histórias de excessos e práticas questionáveis da Black Friday, desde a famigerada “metade do dobro” até promessas de entrega que nunca se concretizaram. No entanto, esse cenário também abriu espaço para uma nova fase: a das empresas que entenderam que a data não é apenas sobre vender mais, mas sobre fazer melhor. Em um ambiente onde a concorrência é intensa e o consumidor está munido de informação, transparência deixa de ser diferencial e se torna obrigação.
O consumidor atual monitora preços com antecedência, compara ofertas em tempo real, utiliza plataformas de reputação e compartilha experiências nas redes sociais. Ele sabe identificar manipulações, percebe quando um desconto é ilusório e não hesita em denunciar práticas abusivas. Essa postura coloca o varejo diante de um dilema ético: seguir pelo atalho da promoção enganosa ou construir uma estratégia que respeite o cliente e fortaleça o posicionamento da marca.
Para as empresas que desejam se destacar, o caminho é claro: planejamento, responsabilidade e foco na experiência do cliente. A preparação para a Black Friday não pode começar na véspera. Envolve revisão detalhada do estoque, adequação da logística, definição de margens realistas, reforço na equipe de atendimento e monitoramento constante dos canais digitais. Cada etapa mal executada resulta em atrasos, reclamações e, no longo prazo, perda de confiança.
Outro ponto crucial é a comunicação. Em datas de alta expectativa, comunicar de forma superficial é um erro que pode custar caro. As empresas devem ser objetivas, honestas e claras quanto às regras da promoção, condições de pagamento, prazos de entrega e políticas de troca. O cliente não quer surpresas desagradáveis. Quer segurança. Quer sentir que está lidando com uma marca que respeita sua inteligência e seu bolso.
A compreensão do comportamento emocional do consumidor também merece atenção. A urgência das ofertas e o clima de euforia podem gerar frustração se a experiência não corresponder ao que foi prometido. Por isso, empresas precisam evitar exageros, ofertas enganosas e prazos irreais. Cumprir o combinado, algo tão simples e, ao mesmo tempo, tão raro em algumas operações, é um dos maiores ganhos competitivos possíveis.
Além disso, a Black Friday deve ser encarada como oportunidade de aprendizado. As métricas de comportamento, as reclamações recebidas, os produtos mais buscados e os horários de maior tráfego são dados valiosos que, quando analisados corretamente, ajudam a melhorar processos internos e a direcionar estratégias futuras. Não se trata apenas de vender uma vez, mas de construir inteligência estratégica para vender melhor ao longo dos próximos meses.
Outro benefício frequentemente negligenciado é o potencial de fidelização. Empresas que oferecem uma experiência positiva durante a Black Friday criam um vínculo emocional com o cliente e isso vale mais do que qualquer campanha publicitária. Uma entrega no prazo, um atendimento humano, um produto exatamente como anunciado: esses são os detalhes que transformam compradores eventuais em clientes recorrentes. E clientes recorrentes constroem sustentação financeira.
No contexto atual, em que o mercado está saturado e o consumidor está mais atento do que nunca, o grande diferencial não é a ousadia da promoção, mas a seriedade da operação. As empresas que compreendem esse movimento e se posicionam com responsabilidade colhem resultados não apenas na Black Friday, mas ao longo de todo o ano.
A data é um palco onde as marcas se revelam e o público está atento a cada movimento. Quem escolhe o caminho da ética e da transparência se destaca, conquista e cresce de forma sólida. Quem insiste em velhas práticas, inevitavelmente, perde espaço.
Porque na Black Friday, mais do que vender barato, é preciso vender com verdade e a verdade sempre retorna em forma de confiança.
Autor: Alexandre Ribeiro Costa da Mata Morais – Estudante do 4º Período do curso de Ciências Contábeis do Centro Universitário Araguaia
Professora Orientadora Luana Machado dos Santos – Mestra em Engenharia de Produção e Sistemas, Administradora, Especialista em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria, Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais. Professora do Centro Universitário Araguaia