Black Friday: Quando o Desconto vira Armadilha e o Consumidor precisa despertar

A Black Friday, antes apenas uma tradição importada do varejo norte-americano, tornou-se no Brasil um fenômeno de massa capaz de movimentar bilhões em poucas horas. O que deveria ser uma oportunidade de economia e planejamento virou, para muitos consumidores, um evento marcado por impulsividade, desinformação e armadilhas emocionais cuidadosamente construídas pelas empresas. A cada edição, repete-se o mesmo enredo: anúncios agressivos, gatilhos psicológicos bem posicionados e uma avalanche de descontos que, nem sempre, são tão reais quanto parecem. Se há uma verdade que a Black Friday revela ano após ano, é que comprar mal sai muito mais caro do que não comprar.

            Estudos sobre comportamento do consumidor mostram que o brasileiro está particularmente vulnerável a compras impulsivas. A combinação entre ansiedade econômica, desejo de pertencimento e o eterno “medo de perder” cria o cenário perfeito para decisões rápidas e pouco racionais. Na prática, promoções relâmpago, contagens regressivas e mensagens de escassez não são apenas estratégias de marketing, mas estímulos que ativam respostas automáticas do cérebro, levando o indivíduo a agir antes de refletir. E isso explica por que tantos consumidores se arrependem dias depois, quando percebem que o desconto não compensava o gasto, ou, pior, descobrem que comprometeram boa parte do orçamento por uma compra sem necessidade.

            Além da dimensão emocional, existe também o lado técnico: plataformas de e-commerce utilizam ancoragem de preços, manipulação visual, cores estrategicamente escolhidas, layouts que priorizam o “comprar agora” e notificações insistentes que geram a sensação de urgência. A “pressão psicológica digital” nunca foi tão grande. É um ambiente desenhado para reduzir a reflexão e ampliar a impulsividade. Estudos internacionais, como os conduzidos pela Yale School of Management, indicam que apenas cerca de um terço dos consumidores segue uma lista prévia durante a Black Friday, o restante se deixa levar pelo momento. No Brasil, dados de entidades de proteção ao consumidor revelam que parte das ofertas exibidas como “imperdíveis” já esteve com preço igual ou até inferior em outros períodos do ano, sem o alarde publicitário que envolve a data.

            A consequência é previsível: endividamento. Em um país onde mais de 70% das famílias já convivem com algum nível de dívida, a Black Friday pode se transformar em um gatilho perigoso. A facilidade de crédito, combinada com a emoção da compra, contribui para que muitos passem semanas ou meses tentando reparar um erro cometido em poucos segundos. O consumo impulsivo, quando repetido, não apenas afeta o bolso, mas também a saúde mental, levando a culpa, estresse e sensação de perda de controle.

Diante desse cenário, educar o consumidor tornou-se mais do que uma necessidade: é uma responsabilidade social. Campanhas pré-Black Friday precisam ir além dos alertas superficiais e investir em educação financeira real, explicando como planejar compras, identificar promoções enganosas e definir limites. Estratégias de “nudges”, pequenas intervenções que estimulam escolhas mais conscientes, já provaram ser eficazes em diversos países. Sites de compras poderiam exibir avisos objetivos como “Você realmente precisa deste produto agora?” ou “Este item corresponde a X% do seu orçamento mensal?”. Outro recurso essencial é a transparência no histórico de preços, ferramenta que ajuda o consumidor a verificar se a promoção é genuína ou apenas uma maquiagem de valores.

            Mas a responsabilidade não é apenas do consumidor. Cabe ao varejo adotar práticas mais éticas, e ao poder público reforçar a fiscalização, especialmente em períodos de grande movimentação comercial. Proibir a falsa sensação de escassez, monitorar descontos irreais e punir empresas que usam de artifícios enganosos são medidas urgentes para equilibrar a relação de consumo.

A conscientização não tem o objetivo de esvaziar a Black Friday, mas de ressignificá-la. Comprar de forma inteligente é possível, desde que haja preparo, informação e, principalmente, sobriedade diante da avalanche de estímulos digitais. A data pode continuar sendo uma aliada do consumidor, desde que ele assuma o protagonismo sobre suas decisões, e não o contrário. No fim das contas, o grande desafio da Black Friday não está no preço das ofertas, mas no preço de ceder ao impulso.

Porque nenhum desconto vale a perda da sua liberdade financeira.

Autores: Gabriel Cândido Natal e Silva, Icaro Aparecido Lessa de Oliveira, Luana Oliveira Pires Barbosa, Mariana Mariano da Silva Porfirío, Milena Mariano da Silva Porfírio – Estudantes do 3º e 4º Período do curso de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Araguaia.

Professora Orientadora Luana Machado dos Santos – Mestra em Engenharia de Produção e Sistemas, Administradora, Especialista em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria, Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais. Professora do Centro Universitário Araguaia

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