A Black Friday, que chegou timidamente ao Brasil por volta de 2010, transformou-se em poucos anos em um dos eventos mais poderosos do varejo nacional. Hoje, movimenta bilhões de reais e mobiliza consumidores de todos os perfis, das classes populares aos compradores mais exigentes do e-commerce. A data, que antes era vista como uma simples réplica do feriado norte-americano, ganhou características próprias e tornou-se um fenômeno cultural, capaz de transformar hábitos e moldar expectativas muito antes das promoções começarem. Mas, por trás da euforia dos descontos, revela-se um comportamento de consumo complexo, influenciado por fatores emocionais, sociais e tecnológicos.
O consumidor brasileiro, historicamente atraído por boas oportunidades, reage com intensidade à promessa de preços reduzidos. A lógica é simples: diante de um cenário econômico marcado por instabilidade, inflação e perda de poder de compra, qualquer chance de economizar ganha força. No entanto, a Black Friday não opera apenas com base em números, mas sobretudo na emoção. As empresas conhecem esse mecanismo e constroem uma atmosfera de urgência que envolve anúncios chamativos, contadores regressivos, mensagens de estoque limitado e notificações que pulam na tela do celular a todo instante. Esses estímulos acionam gatilhos psicológicos profundamente estudados pelo neuromarketing.
Um dos gatilhos mais explorados é o chamado FOMO (fear of missing out), o “medo de ficar de fora”. Ele provoca no consumidor a sensação de que, se não agir imediatamente, perderá uma oportunidade única. Essa percepção, ainda que construída artificialmente, tem enorme impacto na tomada de decisão, levando a compras por impulso e escolhas pouco racionais. Não por acaso, pesquisas de comportamento mostram que uma parcela significativa dos consumidores se arrepende de algum item comprado durante a Black Friday, especialmente quando o desejo supera a real necessidade.
A influência das redes sociais intensifica esse comportamento. Influenciadores, propagandas personalizadas e vídeos de unboxing criam um ambiente de aprovação social para as compras, reforçando a ideia de que consumir é participar de um evento coletivo. Nesse contexto, o consumidor não compra apenas um produto, mas a sensação de pertencimento, de vantagem e até de status. A pressão social digital, embora sutil, é tão poderosa quanto os anúncios tradicionais.
No entanto, é importante reconhecer que o consumidor brasileiro vem se tornando mais atento. A popularização de sites comparadores de preço, avaliações de outros compradores e ferramentas de monitoramento ao longo do ano ajudaram a desmontar práticas enganosas, como a famosa “metade do dobro”. Hoje, grande parte dos consumidores pesquisa antes de comprar, acompanha o histórico de preços e verifica a reputação das lojas. Esse comportamento mais crítico pressiona o varejo a adotar práticas mais transparentes e éticas, o que fortalece a relação de confiança entre marcas e público.
Para as empresas, a Black Friday representa uma oportunidade estratégica: além de aumentar vendas, reforça a percepção de valor da marca e amplia a base de clientes. No entanto, o sucesso depende da capacidade de equilibrar marketing agressivo com responsabilidade. Quando uma empresa cria expectativas que não entrega, os danos à imagem são maiores do que qualquer lucro temporário. Transparência, clareza na comunicação, respeito ao consumidor e descontos reais se tornaram diferenciais em um mercado cada vez mais informado e exigente.
Se bem executada, a Black Friday pode beneficiar todos os lados: consumidores que buscam economia e empresas que desejam fortalecer sua presença no mercado. Mas isso só é possível quando o comportamento de consumo é compreendido por completo, não apenas na sua dimensão racional, mas também emocional, cultural e social. A data já provou ser muito mais do que uma liquidação: é um espelho das escolhas, desejos e fragilidades do próprio consumidor.
Ressalta-se que, a Black Friday continua sendo um grande palco de decisões rápidas e estímulos intensos, onde informação vale mais do que qualquer desconto. Porque, diante de tantas ofertas, o consumidor só ganha de verdade quando escolhe com consciência e não com pressa.
Porque, no universo do consumo, o maior desconto sempre será aquele que preserva a consciência, e não o que esvazia a carteira.
Autores: Ana Julia Borges Silva, Caio Alves Borges De Oliveiram, Gabriella Fernanda Dias Ferrreira, Maria Clara Matias Alves Dos Santos, Maria Vitória Dos Santos, Nadya Bethania Alves Lopes De Moura, Pedro Paulo Dias Maciel – Estudantes do 3º e 4º Período do curso de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Araguaia
Professora Orientadora Luana Machado dos Santos – Mestra em Engenharia de Produção e Sistemas, Administradora, Especialista em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria, Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais. Professora do Centro Universitário Araguaia