A Black Friday se consolidou como um dos maiores eventos do varejo brasileiro, tornando-se quase uma tradição nacional. Todos os anos, milhões de consumidores aguardam ansiosamente a última sexta-feira de novembro, embalados pela promessa de descontos imperdíveis e pela sensação de que, finalmente, farão o “grande negócio”. Essa expectativa, no entanto, convive com uma realidade cada vez mais preocupante: a banalização das fraudes, o avanço de estratégias enganosas e a manipulação psicológica que transforma a experiência de compra em um terreno repleto de riscos invisíveis.
No Brasil, a Black Friday ganhou força especialmente com o crescimento do comércio eletrônico. As telas se tornaram vitrines infinitas e altamente persuasivas, e as empresas, amparadas por tecnologias de marketing sofisticadas, transformaram o evento em um espetáculo digital, repleto de contagens regressivas, notificações constantes e mensagens hipnotizantes. Contudo, à medida que o faturamento cresceu, cresceu também o número de consumidores enganados por ofertas irreais, sites falsos e práticas comerciais que desafiam a transparência. O termo “Black Fraude” não surgiu por acaso; ele reflete o cansaço de uma população que, por anos, viu preços serem artificialmente elevados antes da data, descontos mascarados sob estratégias questionáveis e promessas que, no fim, se revelaram ilusões.
Outro aspecto inquietante é a forma como a Black Friday dialoga diretamente com a estrutura emocional do consumidor. Pesquisas demonstram que decisões financeiras raramente são racionais, e a data explora intensamente essa fragilidade. O apelo da escassez, o medo de perder uma oportunidade, a comparação com preços “de referência” que nem sempre são reais e o comportamento coletivo exaltado funcionam como gatilhos que anulam o pensamento crítico. Não compramos apenas porque precisamos; compramos porque somos pressionados a acreditar que aquela é a última chance, que o produto vai acabar, que milhões já aproveitaram, e que, se não clicarmos agora, estaremos perdendo uma vitória.
Enquanto isso, os golpes digitais se multiplicam a uma velocidade alarmante. Em cada edição da Black Friday, cresce o número de sites falsos que imitam grandes varejistas, links maliciosos enviados por redes sociais e pagamentos exigidos via PIX ou boleto com valores suspeitamente baixos. Criminosos se aproveitam justamente do estado emocional de urgência e da confiança cega que muitos depositam em anúncios atraentes. Em segundos, uma compra impulsiva pode se transformar em prejuízo financeiro, vazamento de dados ou clonagem de cartão.
Como se não bastassem os golpes explícitos, existe ainda um universo mais sutil e pouco discutido: o uso dos chamados dark patterns. São elementos invisíveis nas interfaces digitais, projetados para manipular escolhas e influenciar decisões sem que o usuário perceba. Botões de cancelamento quase escondidos, telas que dificultam comparar preços, caixas pré-marcadas para incluir serviços extras ou mensagens que induzem culpa por não comprar fazem parte dessa arquitetura silenciosa que opera nas sombras. Embora legalmente nebulosos, esses mecanismos afetam diretamente a liberdade de escolha e aprofundam a sensação de vulnerabilidade, principalmente em períodos de compras intensas como a Black Friday.
Diante desse cenário, o consumidor brasileiro se encontra em uma posição paradoxal: é seduzido por ofertas que prometem economia, ao mesmo tempo em que é constantemente exposto a riscos que podem comprometer sua segurança financeira e emocional. A solução, contudo, não recai apenas sobre ele. É fundamental que haja um esforço conjunto envolvendo empresas comprometidas com a transparência, órgãos de fiscalização atuantes e plataformas digitais que invistam em sistemas robustos de proteção. É igualmente necessário fortalecer práticas educativas que ajudem o consumidor a reconhecer manipulações, avaliar preços, identificar fraudes e compreender quando está sendo guiado mais pela emoção do que pela necessidade.
A Black Friday, simbolicamente, revela os desafios contemporâneos do consumo no ambiente digital. Ela expõe a tensão entre o desejo de economizar, a sedução das tecnologias e a crescente sofisticação de práticas enganosas. Ainda assim, o evento não precisa ser abolido; ele precisa ser aperfeiçoado. A construção de uma Black Friday mais ética, transparente e segura é possível, mas depende de amadurecimento, vigilância e, sobretudo, consciência. Sem isso, continuaremos repetindo o mesmo ciclo anual: a euforia da compra seguida pelo arrependimento, o entusiasmo seguido pela frustração.
No fim das contas, o maior desconto não é o que aparece na tela, mas aquele que o consumidor conquista quando evita o prejuízo, escapa da manipulação e escolhe comprar com lucidez, não com impulso.
Em meio ao brilho das ofertas, a verdadeira economia está em não deixar que manipulem a sua escolha.
Autores: Amanda Fernandes Silva, Ginair Carlos Carapina, Larissa Pinheiro Lopes, Lavínia Gomes Da Silva, Leonardo Borges Oliveira, Natanael Henrique Rodrigues da Silva, Ravele Rocha Cesario, Raquel Lobo De Santana – Estudantes do 3º e 4º Período do curso de Administração e Ciências Contábeis do Centro Universitário Araguaia.
Professora Orientadora Luana Machado dos Santos – Mestra em Engenharia de Produção e Sistemas, Administradora, Especialista em Gestão Empresarial com Ênfase em Consultoria, Especialista em Metodologias Ativas e Tecnologias Educacionais. Professora do Centro Universitário Araguaia