Cineastas discutem a importância de produções audiovisuais com pautas ambientais e como a comunicação pode ser uma aliada na preservação ambiental, como no cerrado | Foto: Uniaraguaia
Kamila Sena
O XVII Cineclube Araguaia, promovido pela coordenação dos cursos de Jornalismo e de Publicidade e Propaganda do Centro Universitário Araguaia (Uniaraguaia), foi realizado no dia 18 de outubro, das 8h30 às 11h30, na sala de Atos da instituição, polo Bueno. O evento, realizado por meio da exibição do documentário Ser Tão Velho Cerrado, teve como objetivo promover o debate sobre questões relevantes da contemporaneidade.
O Cineclube é um evento semestral oferecido pela coordenação dos cursos de comunicação que propõe a exibição de produtos audiovisuais, aberta também à comunidade, com o propósito de debate e conscientização acerca do tema de cada semestre. De acordo com a coordenadora dos cursos de comunicação da instituição, Viviane Maia, as obras escolhidas para o evento são diretamente relacionadas à pauta norteadora que, neste semestre, é relacionada à comunicação ambiental. Dada a temática e o documentário escolhido para a primeira edição do XVII Cineclube, a pauta norteadora de 2023/2 é Comunicação ambiental: desafios contemporâneos. Assim, os convidados para o debate foram o cineasta e empresário, Fábio Teófilo e Leandro Cunha, cineasta, fotógrafo e professor.
O documentário da exibição, Ser Tão Velho Cerrado, é uma produção de 2018 do diretor André D’Elia. Sendo esta uma produção que aborda, principalmente, o cenário de desmatamento do cerrado, a importância da preservação do bioma. Ao longo da obra, são apresentadas algumas entrevistas com moradores, turistas e defensores do bioma, como também o debate com alguns personagens que defendem políticas agrônomas não apoiadas por defensores do ecossistema.
Hora do Debate
Durante o debate, após a exibição do filme, o professor Leandro Cunha traduziu o material como “um filme didático”. O professor levanta uma visão técnica e crítica a respeito do documentário e ressalta questões como a responsabilização social e o papel diário de cada cidadão para a recuperação do meio ambiente, em seguida declara que “a questão da devastação do meio ambiente é questão de todos […] o planeta está dando um grito de alerta!”.
Complementando a fala deCunha, o cineasta Fábio Teófilo instiga os ouvintes a refletirem sobre como e o porquê de algumas implantações, não favoráveis ao bioma, ainda são aprovadas e fala como essa política de interesses faz com que o futuro do cerrado seja comprometido. Aqui é destacada a importância de uma visão sistêmica a ver como certas organizações se beneficiam dessas implementações e saber distinguir.
Quando questionado a respeito do cenário de animações voltadas ao cenário ambiental no Brasil, Teófilo afirma que, no mercado, ainda há dificuldades quanto ao convencimento de produtores, por exemplo, quando se trata de alertar sobre os riscos da utilização de venenos, comparado a conscientização de uma abordagem menos agressiva, principalmente ao meio ambiente. Devido a essa dificuldade, Teófilo tem o papel de fazer com que esse trabalho de conscientização chegue, visualmente, aos produtores, para que invistam na melhor solução.
Cunha ao tratar sobre a utilização do audiovisual como forma de conscientização para a prevenção de ecossistemas e questões ambientais, aponta que o âmbito do audiovisual no estado de Goiás cresceu de forma significativa a partir da existência do Festival Internacional de Cinema e Vídeo Ambiental (FICA). Por fim, Cunha pontua a relevância da crítica política, social e da conscientização para a construção de bons profissionais para o mercado.
Escolha do tema
Ao explicar a importância de tratar sobre temas ambientais e o porquê da escolha por Ser Tão Velho Cerrado, a professora Viviane afirma que a escolha do material aconteceu assim que viu a apresentação da obra em um canal de TV aberta e sentiu-se comovida com a mensagem presente no filme. Isso, em sua perspectiva, traz reflexões e uma leitura crítica sobre a política para os quem assiste-o, de certa forma, mudando a visão dos espectadores, “ele bota o dedo na ferida e fala quem é quem”, pontua Maia.
Os Kalungas
Ao longo do documentário, a obra aborda a atuação de agricultores familiares e, em especial, da população Kalunga na preservação do cerrado. Atualmente, cerca de 30% do território do estado de Goiás é território do Quilombo Kalunga e a população presente nesta área é responsável pela preservação de 83% da vegetação nativa do bioma.
“Tanto as populações quilombolas como as populações indígenas, elas são fundamentais para a preservação do meio ambiente, porque são comunidades que sabemos que são meio ambiente, que têm uma postura completamente diferente da gente, da cidade. Então eles são muito importantes e é por isso também que a gente tem que lutar pela população quilombola, que a gente tem que lutar pelos povos indígenas, porque eles sim, eles estão em comunhão com o meio ambiente. Nós temos muito a aprender com eles”, complementa Viviane Maia.