Suicídio: Precisamos falar sobre

Aos 15 anos de idade, a adolescente L.C. teve uma grande decepção na família. Sempre fui uma criança alegre e cheia de sonhos”. Devido aos problemas que a adolescente já enfrentava em tão pouca idade, aos 16 anos ela começou a se cortar, encontrava um certo “alívio” da dor e da alma, na ponta da navalha, a sua pele cicatrizava, mas a alma não. A adolescente sempre acreditava ser um grande estorvo para a família, “minha cabeça confirmava isso, e a ideia de suicídio começou a fazer parte do meu cotidiano”, afirma.

Enquanto os índices de suicídio caem em todo o mundo, uma grande porcentagem cresce de modo assustador em todo Brasil de 2015 até os dias atuais, e em grande maioria acontece entre adolescentes, informa uma pesquisa da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo). 

De acordo com o estudo, a taxa entre jovens com idade de 10 a 19 anos aumentou em torno de 25% nas seis maiores cidades brasileiras: Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro. Onde no mesmo período, o índice de suicídio em todo mundo caíram 17%, fonte: (https://www.google.com/search?q=indice+de+suicidios&oq=indice+de+suicidios&aqs=chrome..69i57.3391j0j0&sourceid=chrome&ie=UTF-8). 

A pesquisa indica que a chance de um adolescente do sexo masculino tirar a própria vida é até três vezes maior do que uma adolescente do sexo feminino. Levantamento do Ibope ouviu 2 mil pessoas e mostra que jovens têm dificuldade para falar sobre situações de depressão e suicídio.

Desde 2014, a Associação Brasileira de Psiquiatria – ABP, em parceria com o Conselho Federal de Medicina – CFM, organiza nacionalmente o setembro Amarelo, onde o dia 10 deste mês é, oficialmente, o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio. De acordo com o conselho federal de medicina são registrados cerca de 12 mil casos de suicídios todos os anos no Brasil e mais de 1 milhão em todo mundo e reforçam que a maioria dos casos ocorrem entre os jovens. Ainda de acordo com o conselho federal de medicina – CFM, cerca de 96,8% dos casos de suicídios estão relacionados a transtornos mentais.

Em primeiro lugar está a depressão, seguida de transtorno bipolar e abuso de substâncias.A cada 40 segundos, uma pessoa se suicida no planeta, fonte: https://envolverde.cartacapital.com.br/campanha-setembro-amarelo-para-a-prevencao-do-suicidio/

De acordo com a organização mundial da saúde (OMS), em todos os países, sejam eles ricos ou pobres, registram casos de suicídio. Mas praticamente 80% desses óbitos são identificados em nações de renda baixa e média, segundo dados de 2017. 

O envenenamento por pesticidas é o método usado em 20% de todas as mortes, outros meios comuns são o enforcamento e o uso de arma de fogo. A Organização Mundial da Saúde – OMS, lembra que, nos países mais ricos, já foi reconhecido um vínculo entre suicídio e problemas de saúde mental. 

De acordo com a ONU – Organização das Nações Unidas, muitos suicídios são cometidos por impulso, em momentos de crise. A OMS defende ainda o fornecimento de serviços para tratamento em todos os terminais de atendimento de saúde. Governos também devem oferecer acompanhamento médico após tentativas de suicídio. Cada suicídio é uma tragédia que afeta famílias, comunidade e países inteiros, afirma a OMS. 

A quem recorrer?

Atualmente, o Brasil conta com o CVV – Centro de Valorização da vida; fundado em 1962, é uma associação civil sem fins lucrativos, filantrópica, reconhecida como órgão de utilidade pública federal. Trabalha junto com voluntários na prevenção ao suicídio para todas as pessoas que querem e precisam conversar, onde o serviço de apoio é gratuito e o anonimato é garantido. 

De acordo com o CVV, o suicídio consta como quarta maior causa de morte entre brasileiros de 15 a 19 anos. Em forma de ajudar essas pessoas, hoje a associação conta com uma média de 3 mil voluntários espalhados por todo país e o indivíduo que tem interesse em conversar basta ligar no número 188 ou 141 (nos estados da Bahia, Maranhão, Pará e Paraná) e também encontra- se disponível pela internet através de chat e e-mail. 

Neste ano, diversos fatores levam a crer que o movimento Setembro Amarelo terá alcance recorde, onde o CVV é um dos seus mobilizadores desde o início. 

A morte em si já é um tabu; morte por suicídio costuma ser ainda mais, pois toca em questões de escolhas, crenças e barreiras sociais. Nestes casos, muitas vezes há pouco debate e divulgação.

Em junho deste ano, o Centro lançou uma série de vídeos para se prevenir o suicídio entre jovens e adolescentes, faixa etária em que mais cresceram os índices de suicídio no país. Para realizar projetos de prevenção, o ministério da saúde afirmou que ampliará as redes de atenção Psicossocial (RAPS) em cidades onde há alto índice de suicídio. O ministério também anunciou que dará apoio ao CVV. 

ENTREVISTA: LEONARDO A. B. DE PASSOS, 24 ANOS, ESTUDANTE.

Como conviver com a depressão?

O estudante Leonardo A. B. de Passos, que já sofreu tentativa de suicídio, fala sobre a ocasião em que tentou tirar sua própria vida, relata sobre o que mudou e os obstáculos da depressão:

– Como você fez para dar a volta por cima depois de tentar suicídio?

Bom, o suicídio foi algo planejado, lembro que eu tinha marcado a data com antecedência, eu já não aguentava mais viver, mas eu precisava viver algumas experiências antes de partir, por isso eu marquei uma data e também pesquisei vários métodos até achar um que não me assustasse tanto. 

Chega a ser engraçado, mas a força de querer mudar e sair da clínica depois de ter tentado veio a partir de uma música que tocou na rádio interativa no dia 13 junho de 2012, chamada “skyscraper” onde eu me senti como o eu lírico presente na letra. As tentativas vieram a partir de Bullying tanto da escola, quanto da cidade interiorana e também por causa da minha própria família.

– Como você aprendeu a lidar com a depressão e a conviver com ela no cotidiano?

Depressão ainda não tem cura, tem tratamento e controle, aprender a lidar com uma doença onde não existe nada visual perante os olhos das pessoas é algo bastante difícil e ao mesmo tempo fácil de esconder. É como uma luta constante, todos os dias você sai para o campo de batalha, e todos os dias você se sente atingido, e todos os dias você volta sangrando, com dores, machucados, traumas. Mas o pior de tudo é que nunca as feridas se cicatrizam, pois, todos os dias é necessário voltar ao campo de batalha, pois ou é encarar essa guerra interna ou desistir de você mesmo.

Todos os dias a coisa mais difícil é abrir os olhos, já que o único momento que não sentimos aquele turbilhão de emoção é no sono, essa é uma verdade que poucos têm a coragem de dizer, mas apesar de tudo isso, existe uma coisa dentro de cada um de nós que se chama força, por isso, acho que a única forma que eu posso dizer que dá para conviver com isso é: Permaneça Forte!

DICAS QUE PODEM SALVAR UMA VIDA

Como reconhecer um suicida? 

De acordo com a psicóloga Drª Márcia Maria, um indivíduo que apresenta algum tipo de distúrbio ou transtorno mental, sofre alterações do sono, apetite e humor. E em casos de depressão, ela começa a sentir mais necessidade de ficar sozinha, perca nas atividades diárias, sem coragem de fazer tudo aquilo que antes fazia. 

A psicóloga ainda ressalta que “depressão é um dos transtornos mentais mais comuns, ela é responsável pela grande maioria dos suicídios”. Ainda segundo a psicóloga, uma pessoa que pensa em se suicidar ou que já tentou tirar a própria vida, ela se encontra praticamente no fundo do poço. Não encontra nenhuma saída e não consegue nenhuma solução para os problemas em que ela possa sair do estado de sofrimento. 

“A pessoa que tenta suicídio não está querendo morrer, ela quer aliviar a dor que está sentindo, ela não está sabendo encontrar mecanismo de enfrentamento para conviver com aquela dor ou para sair daquele estado, então para aplacar essa dor, ela busca o suicídio para resolver o problema”

Em alguns casos, existem pessoas que passaram por grandes perdas, como um familiar ou até mesmo em outras áreas da vida como perda financeira e a pessoa não aprende a lidar com essas situações e começa a entrar em um quadro depressivo, acha que tudo acabou e nada mais tem sentido, assim tendo sentimento de morrer como uma forma de aliviar e encontrar uma solução.

 A depressão tem tratamento, existem vários métodos para se prevenir e o suicídio pode sim ser evitado. “Um psicólogo tem como papel principal acolher esse paciente que se encontra depressivo, saber escutar esse paciente, trabalhar as dúvidas deste paciente e resgatar as coisas boas que ele tem na vida para que ele reflita e mostrar que as forças positivas e os apoios são maiores e o manterá vivo”, afirma a psicóloga. A especialista ainda alerta que é sempre bom ficar espertos aos indícios que uma pessoa apresenta, afinal, depressão pode sim ser evitado. 

Sempre ficar alerta as pessoas quando leva evidências dizendo coisas do tipo “se eu morresse seria melhor”, “nada tem mais sentido”; nestes casos o indivíduo está dando indício ao suicídio. Então, aos amigos e familiares, nunca levem isso como uma forma da pessoa chamar atenção ou que seja drama, procure conversar com ela e ouvi-la, assim ajudando a prevenir um possível suicídio. 

A psicóloga Márcia Maria ressalta que quando um paciente chega ao consultório com vontade de suicidar com um nível de ansiedade muita alta, o psicólogo precisa encaminhar este paciente para um tratamento psiquiátrico, assim tendo a necessidade de tomar medicamentos e às vezes tendo que ser internado, dependendo do grau de depressão e ansiedade. Pois somente a terapia não ajuda no tratamento.

O STATUS SOCIAL NÃO DIMINUI OS ÍNDICES, MUITO MENOS O GÊNERO

A depressão é mais prevalente em mulheres

Diversos estudos mostram certo padrão demográfico no que se refere aos pacientes com depressão. De maneira geral a depressão é mais prevalente entre as mulheres, independentemente da idade. A pobreza é, sem dúvida, um fato associado à prevalência da depressão. Aspectos como baixa renda, baixa escolaridade e desemprego são variáveis importantes identificadas em diversos estudos. 

Considerada pela OMS como o mal do século, a depressão ainda é um desafio para médicos e pacientes. É muito importante ficar atento às pessoas próximas, sinais do tipo: fraqueza, irritabilidade, angústia, ansiedade, baixa autoestima, pensamentos pessimistas, dificuldade para se concentrar, insônia, pensamento sobre mortes e vários outros. 

Para espantar a tristeza e o desânimo, é importante gerenciar o estresse e compartilhar as dificuldades do dia a dia. Ler, aprender coisas novas, fazer atividades físicas, praticar algum hobbie e se divertir de maneira geral, ajuda a manter a cabeça ativa e livre de pensamentos negativos ou preocupações excessivas. 

De acordo com relatório divulgado pela Organização Mundial da Saúde – OMS, a depressão pode durar semanas ou mesmo anos. E uma vez que o indivíduo passe por uma crise, corre maior risco de enfrentar episódio semelhante outra vez na vida. Em muitos casos, o tratamento é feito em conjunto pelo psiquiatra e o psicólogo. Fonte: https://saude.abril.com.br/medicina/depressao-sintomas-diagnostico-prevencao-e-tratamento/

Texto: Ybsã Oliveira, Laylla Alves, Leonardo Calazenço

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