Propondo mudanças e gerando transtornos

LEOMAR SILVESTRE

Recentemente tivemos eleições municipais em todo o País, elegendo novos prefeitos e vereadores. Todos os candidatos, como já é de costume, demonstram inteira preocupação e se dispõem a lutar pela saúde, educação e meio ambiente. Isso mesmo, meio ambiente. Será que para obter votos é realmente necessário lotar as ruas de propaganda? Nessa matéria, mostrando o ponto de vista de três estudantes que estão em etapas diferentes da vida: Ensino médio, curso pré-vestibular e graduação.

Charge: André Santos.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, em Goiânia temos 957.161 mil eleitores ativos e haverá segundo turno para a eleição de prefeito. A importância das eleições diretas é indiscutível, foi um direito conquistado e permite que cada cidadão possa fazer parte da mudança que deseja. E é justamente esse poder de mudança que vou mostrar para você. Então, vamos refletir, como você considera a forma de política vigente?

Luiza Seeman, 17, estudante de curso pré-vestibular para medicina: “Creio eu que a forma política atual tem muita divulgação somente em prol do candidato, mais como forma de propaganda do que qualquer coisa. Existe uma grande manipulação de dados para divulgar o que possa beneficiar ou prejudicar certo político. Ainda falta uma mídia mais desaparelhada do Estado, comprometida realmente com a divulgação de verdade do que apenas propor sua ideologia”.

Pedro Victor, 17, fazendo o último ano do ensino médio: “A forma de fazer política atualmente ainda é muito arcaica e sem qualquer revisão ou aprofundamento, normalmente são promessas em que o divulgador não possui autoridade para executar!  As campanhas são muito genéricas, pois é comum ver o mesmo discurso em lugares totalmente diferentes”.

Luana Rosa, 28, cursando graduação em jornalismo: “A divulgação da campanha é perfeita. Muito marketing, utilizam de áudio, carros de som, TV, rádio, mas seria bom se eles quando eleitos cumprissem o que dizem. Todos sabemos que nem a metade dos políticos cumpre suas promessas”.

Esses são pontos de vista diferentes, mas provavelmente se assemelham aos de grande parte da população. O Código Eleitoral vigente, através da Lei 12.034 estabelece restrições à propaganda política, não admitindo mensagens que incitem a guerra, atentados, desobediência civil, ofertas ou promessas de dinheiro ou vantagens, inclusive sorteios. Mas, a fiscalização dessas restrições não é sempre feita por completo, em partes cabe à população, indiretamente, se conscientizar e lutar por seus direitos.

A mesma lei citada, que foi alterada em 2009 diz que com o objetivo de diminuir a poluição visual e ter maior cuidado com o meio ambiente, o que antes era permitido com a colocação de cartazes, placas, estandartes e faixas ou assemelhados em postes, viadutos, passarelas, paradas de ônibus, pontes e outros equipamentos urbanos, hoje está proibido. Mesmo que tais propagandas sejam removíveis e não causem dano, dificultem ou impeçam o bom andamento do tráfego. Nestes casos, a multa varia de R$ 2 mil a R$ 8 mil, se o bem não for restaurado após a notificação da Justiça Eleitoral. A política feita atualmente causa algum dano ambiental?

Luana Rosa: “Sim. Tanto na poluição sonora quanto na divulgação impressa, com jornais e panfletos. Geralmente um dia antes das eleições, eles espalham esse material nas ruas de forma totalmente incorreta”.

Luiza Seeman: “Não é o principal problema, mas a falta de consciência e responsabilidade ambiental colabora com ela.  Com tantos santinhos distribuídos, as pessoas acabam descartando na rua e sujando a cidade, o que pode provocar outros problemas, como o entupimento de bueiros e as consequentes enchentes. Além de prejudicar a estética da cidade”.

Pedro Victor (17 anos, fazendo o último ano do ensino médio): Sem dúvidas, principalmente no dia eleitoral onde as ruas são infestadas de santinhos e panfletos. Sem contar que o uso de papel ainda é intenso em ano eleitoral.

O nome santinho aparentemente vem de uma prática relacionada à Igreja Católica. Antigamente os padres distribuíam pequenos papeis com imagens coloridas de santos, que eram chamados, na época, de “Santinho”. Até aí sem problemas, mas a poluição é gerada pela quantidade exacerbada de santinhos. Um exemplo; se a cidade tem cem mil habitantes, não é necessário ter duzentos mil santinhos. Esse excedente é feito para justamente despejar nas ruas e fazer “boca de urna” indireta.

Mas essas atitudes não devem acabar com seu conceito positivo sobre a política. Nosso país é democrático, logo, precisamos dela para adquirir melhorias de vida. Quem você elege deve te representar nos mais diversos níveis de poder existentes, tudo depende literalmente do seu voto. Após vencer uma eleição, a pessoa que ocupa o cargo se torna um servidor público. Devendo prestações de contas para toda a população. Então, na sua opinião, qual a importância da política para a sociedade? Ela cumpre o seu papel na realidade ou apenas na teoria?

Pedro Victor: “A política brasileira teria tudo pra dar certo se a base teórica fosse respeitada, infelizmente não podemos culpar os cidadãos pela má educação política, mas sim tentar meios cabíveis para promover um ensinamento melhor do exercício da política”.

Luiza Seeman: “A política tem um grande peso para a sociedade. Por meio dela que temos nossa representatividade e a de nossos interesses, coletivos e individuais, no cenário nacional, estadual e municipal. Na situação atual do Brasil, o papel central é cumprido, mas não da forma ideal. Existem muitos cidadãos, se podemos chamá-los assim, que não dão valor ao seu direito e dever, que elege ou não e tem o poder de tirar e colocar quem for o melhor”.

Luana Rosa: “O papel dos políticos seria administrar a vida pública, representar o cidadão e trabalhar pela melhoria e o bem-estar da comunidade. Não, eles não cumprem o dever que lhes é confiado”.

Para concorrer a um cargo público é necessário atender aos atributos mínimos exigidos pela Constituição Federal, conforme especificado no vídeo. Mas, para ser um bom governante é preciso de muito mais. Um governante deve ter noções consideráveis de administração pública e uso das verbas arrecadadas. Precisa manter contato direto com todas as parcelas da população, inclusive aqueles que não o elegeram, para atender as suas necessidades. E também receber aqueles que precisam. A política é mais que uma série de acordos almejando fins próprios, essa mudança começa com seu voto. Quais as características fundamentais para um bom governante? Você considera que votou corretamente?

Luiza Seeman: “Um bom governante, a meu ver, deve ser bem instruído, com o mínimo de honestidade que não permita ser facilmente corrompido, cumprir ao máximo suas promessas de campanha e saber liderar, gerenciar e coordenar alianças que favorecem aprovar projetos mais rapidamente e facilitem seu governo. Apesar de já ter 17 anos, escolhi não fazer título de eleitor para essas eleições municipais. Minha cidade [Palmeiras de Goiás] é muito polarizada e prefiro evitar um cenário que pode gerar represálias violentas”.

Pedro Victor (17 anos, fazendo o último ano do ensino médio): Acho que a principal característica de um governante deve ser a racionalidade, para que ele trabalhe de acordo com as leis e não com sua vontade própria. Ele deve conhecer os problemas do sistema, e ser capaz de resolvê-los ou minimizá-los, afinal é o cargo que ele deverá exercer. A ideia que ele deve ter em mente e que ele trabalha para o povo. Não sei se votei certo, mas confiei nas promessas de meu candidato e estou pleno de que se ele não as realizasse poderia recorrer ao judiciário”.

Luana Rosa: “Bons governantes seriam aqueles que tivessem seus interesses voltados para o bem de todos e não somente dele. Eles não deveriam roubar, se corromper, mentir. Deveriam ser exemplos para todos. Infelizmente não é esse exemplo que temos dos políticos no nosso país. Nestas eleições votei em um candidato que considerei ter as melhores propostas. Para vereador, votei em quem já conhecia o trabalho, ficha limpa e que realmente trabalha a favor de todos”.

Com essa leitura, diversas questões foram levantadas em sua mente, provavelmente reflexões próprias e julgamentos de valor social. Tenha consigo que, desde o início dos tempos nossa sociedade evoluiu com pequenas ideias que se tornaram grandes mudanças. Esse assunto já foi abordado de tantas formas que até pode parecer clichê. Mas, acredito que só podemos parar de discutir um problema depois que ele foi totalmente resolvido. Busque em seus pensamentos se ele realmente foi. Espero que as opiniões e fatos abordados aqui tenham feito você sair da sua “zona de conforto”, pois nada de bom acontece quando se está nela.

Read Previous

Cultura ocupa o centro de Goiânia

Read Next

FAZENDO POLÍTICA PARA AJUDAR A SOCIEDADE